terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Fomos pego de surpresa.

Não é de hoje que o estado do Rio de Janeiro vem sentido a força destrutiva da natureza ou os resultados da indiferença do homem para com o próximo. O que aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro é produto de diversos fatores que a anos vem se acumulando, variando desde a ocupação desenfreada de regiões inapropriadas à falta de planejamento de políticas de prevenção. Em 1967 uma catastrófe devastou uma região do Rio, outra em 1981, assim sucessivamente; então Janeiro de 2010, agora Janeiro de 2011. Está mais do que claro para nós, pobres seres humanos, que somos incapazes de conter a fúria da natureza e mais claro ainda o sentimento de repugnância, apatia e frieza por parte de nós mesmo, quando se trata de vidas alheias. Para muito que lerem isso agora irão me chamar de dissoluto, indecente, dizendo todas essa bobagens, todas essas infâmias. Como alguém pode nos chamar de frio, de repugnante depois de todos os esforços para arrecadarmos alimentos, roupas e remédios, depois de toda solidariedade e união em prol dos que necessitam, depois de fazermos o possível e impossível para ajudar, depois de tudo, venho eu aqui dizer que somos indiferentes ao próximo? Sim, somos.
Do que adianta agora construirmos toda essa corrente solidaria, todo esse sentimento contagiante de caridade? Como dizem, não adianta chorarmos pelo leite derramado, neste caso, não adianta chorarmos pelo morro desmoronado! "Fomos pego de surpresa?!" Está aqui uma prova desse indiferença que alimentamos. Como alguém pode ter a cara de pau de dizer que fomos pego de surpresa, depois de ano após  ano, de morte após morte, falarmos que fomos pego de surpresa?
É ridículo falarmos que sentimos na pele a dor dos que tiveram suas casas levadas pela lama, famílias inteiras soterradas, que sabemos o que é cavar com as próprias mãos em busca de seus filhos, pais e amigos, que imaginamos o que é estar no lugar dessas pessoas, passando pelos mesmos problemas que eles. Você sente realmente o que é estar no lugar dessas pessoas? Sente mesmo o que é ser soterrado? Não.
Os moradores dessa região não pediram alimentos ou remédios, não pediram ajuda nenhuma porque eles não pediram para serem soterrados, eles não pediram para serem levados morro abaixo, não pediram para morrer. Moradores esses que sabem do perigo mas são obrigados a se instalar em lugares inóspitos, para proporcionar dignidade a suas famílias, e até isso é tirado delas: dignidade. A foto ao lado mostra um cão que não abandonou sua dona mesmo depois de estar morta e se olhar o detalhe da foto, mais covas abertas para outros que virão. Cenário de guerra, cenário de abandono. Escolas onde eram pra se formar futuros pensadores da sociedade agora servem de necrotério, servem de refúgio para desabrigados.
Até quando seremos pego de surpresa, até quando seremos literalmente jogados na lama, até quando? A ordem agora é reconstruir, recomeçar tudo de novo, porque Janeiro de 2012 está logo ali no fim do túnel ou o começo da mediocridade e ignorância do homem. Como disse Albert Einstein: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta". Algo me diz que ele estava certo... e você?

Nenhum comentário:

Postar um comentário