quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Só resta o abraço.

Parada obrigatória para turistas, sobre o morro do Corcovado estão atentos os olhos de Cristo, dia e noite sobre a cidade Maravilhosa. Lá de cima a visão é panorâmica; a cada ponto descobre-se um novo detalhe da rica biodiversidade. Mas o observador atento e minucioso, acaba por achar, entre uma árvore e outra, escondido cuidadosamente em meio a esse ufanismo natural, trilhas por onde circulam livremente a mendicância da população esquecida e até mesmo desprezada pelo Estado, exceto em períodos de eleições, é claro!
Fazem hoje 80 anos que Cristo, por ironia, encravado sobre rocha, assiste atônito a toda essa movimentação. O descontrolado crescimento demográfico no século XX, advento da efêmera industrialização brasileira nessa época, tiveram por consequência a densa apropriação irregular de terrenos impróprios, aglomerando favelas e mais favelas. Os números são dispersos: fontes de pesquisa afirmam que gira em torno de 150 favelas, outros informam que somadas estão em entre 900, carece-me essa informação. Não importa a quantidade de favelas, já que em teoria não deveria haver nenhuma sequer. O que importa sim é a quantidade de pessoas que vivem ali em estado precário, fragilizadas por suas limitações impostas pela sociedade.
A precariedade dessas favelas acomete outras problemáticas urbanas, entre elas a criminalidade. O mundo da criminalidade se torna atentador a essas pessoas que vivem em tal realidade. Somados a diversos fatores como a pobreza, o descrédito ao Estado e o psicológico visivelmente abatido, resultam nos índices exorbitantemente que assistimos em telejornais de mortes a assaltos. Novidade essa informação para você? Me responderia com um simples "não", além disso acrescentaria em sua resposta, "isso é muito comum". Aqui sim reside um grande problema, já comentado em postagens anteriores do blog. Quando começamos a ver o comum com naturalidade tornamo-nos coniventes a ele.
Se eu continuar citando problemas e mais problemas sociais, tão velhos conhecidos, se tornaria maçante e tão chato quanto o clichê diário que estamos inseridos. Facilmente você, leitor, não aguenta ler.
E que adianta grandes e imponentes leis se não respeitamos nem mesmo as mais simples? A mudança reside em nossos atos, a forma como interpretamos as situações. Não é a toa que Mahatma Gandhi proferiu sábias palavras: "Seja a mudança que você deseja ver no mundo". Precisamos de pouco, mais tão pouco para invertemos essa triste realidade, mas insistimos em acreditar que o vizinho fará por nós. Fraco é aquele que se insere em um mundo de fantasia, que se deixa embebedar por uma ideia eloquente de Cidade Maravilhosa e fecha seus sentidos a realidade. Pessoas e mais pessoas estão agora sendo fragmentadas, silenciadas ora pela criminalidade, ora pelo Estado, ora por sua realidade.
Cristo assiste lá de cima do morro em silêncio ao incansável dinamismo carioca. O que resta-nos? Esperança, fé? Não diria isso. Sei que o Cristo Redentor merece fervorosos aplausos pois ele que está lá, sempre de braços abertos complacente esperando pela volta do filho prodigo ou de um pobre coitado que não tenha mais rumo.